A desconstrução da República
J. J. Duran
A intromissão dos militares na política pode ser danosa para um país e para sua democracia. No Brasil, esse fato se agrava pela existência de um governo que vive e se alimenta da permanente tensão gerada pelos seus ataques verbais às instituições, aos adversários políticos e a diferentes segmentos da sociedade.
Trata-se de um momento difícil pelo qual transitam não só o Brasil, mas boa parte dos países da América Latina e suas democracias titubeantes. Em muitas repúblicas se assiste a um processo de desmonte acelerado do Estado, a supressão de direitos trabalhistas e a venda indiscriminada dos ativos produtivos do Estado.
O quadro laboral se agravou pela ação tangencial produzida pela pandemia, obviamente não prevista nos planos desconstrutivos dos ministros liberais, em particular do homem do Banco Pactual e hoje comandante da política econômica brasileira.
Os militares hoje presentes no círculo do poder governante são parte do seleto grupo de oficiais que embarcou para Porto Príncipe e desembarcou em Brasília para ocupar funções de grande importância. São homens respeitadíssimos, que em governos democráticos recentes formaram a parte não visível do poder e prestaram excelentes serviços ao sistema republicano democrático, mas em outro tipo de conformação.
A história de qualquer nação é a história de suas crises. É no inconformismo que se assenta a grandeza da República, que na fase atual não comporta discursos acirrados ou resgate das páginas amarelas da história construída por ideologias prescritas.
Não é neste momento, quando a República está sendo sacudida pelo vendaval de uma pandemia de proporções ainda não devidamente mensuradas, que devemos dividir esforços e o pouco que temos como sistema de saúde para anteciparmos o pleito eleitoral do ano vindouro.
Até porque a desconstrução do sistema democrático para implantar ideologias alheias ao desejo da sociedade nunca foi tarefa fácil. E nem será neste momento vivido pelo Brasil, que ainda conserva instituições senhoras da República respeitosas dos ditames da Carta Magna.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná