Antes tarde do que nunca
J. J. Duran
É intrigante ver que neste momento difícil da história ainda há setores com forte representação política e midiática proclamando ideologias autoritárias, intransigentes e não solidárias. Como um grito ameaçador, fazem das redes sociais um palco venerável para desqualificar, ridicularizar e denegrir a tudo e a todos que divergem de suas formas de pensar e agir.
Desgraçadamente, fazem da trágica pandemia, que caminha rapidamente para atingir meio milhão de vidas brasileiras ceifadas, um terreno fértil para a defesa de posições ideológicas que em nada contribuem para minimizar o tamanho da maior tragédia dos últimos 100 anos, tampouco seus efeitos.
Enquanto pessoas morrem a todo momento nas UTIs de hospitais superlotados e o desemprego bate sucessivos recordes, na economia o ultraliberal ex-banqueiro mantém o sorriso na face como se sua política não continuasse intrigantemente sonolenta e sem efeitos concretos.
Menos mal que aos poucos se está mudando, ainda que tarde, a forma de diálogo empregada nas relações internacionais e que, dentre outros problemas, há tempos dificulta a chegada da matéria-prima necessária para a fabricação de vacina, produto tão necessário para salvar vidas mas que foi sistematicamente desprezado por um largo período.
Finalmente começou-se a fazer um inteligente trabalho restaurador da confiança e do respeito internacional à República Federativa do Brasil, num indicativo de que o insigne José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, finalmente poderá voltar a descansar em seu mausoléu.
Parece que só agora se começou a acordar para a realidade dos fatos e aceitar que a pandemia também vem destruindo, aqui e lá fora, conceitos e formas de vida.
No entanto, volto a insistir que a culpa por isso tudo não é apenas dos atuais inquilinos do poder central, mas da sociedade como um todo, que, orgulhosa dos avanços obtidos pelo homem ao longo das últimas décadas, não se deu conta do surgimento de um cenário que ofusca raciocínios, queima biografias e ergue um falso pedestal para o endeusamento de líderes tomados pela cobiça e juízes que degradam a Justiça e trocam todo um patrimônio moral por algumas poucas moedas.
A incultura científica, o despropósito discursivo e o negacionismo contumaz dos proclamadores da “gripezinha" não foram suficientes para ofuscar as vozes médicas e científicas que alertavam para a gravidade da pandemia, em que pese terem dado um eco tragicamente longevo a essa falsa retórica. (Foto: Reprodução)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná