Vacina é o único tratamento precoce
José Elias Aiex Neto
Desde o início da pandemia há mais de um ano surgiram vários tratamentos precoces contra a Covid-19. Os mais conhecidos são os usos de remédios como cloroquina, Ivermectina, azitromicina e até o mais controverso ainda que é a aplicação retal do ozônio. Parece piada, mas não é. São tratamentos desaconselháveis e até contra indicados por autoridades sanitárias, sem eficácia e comprovação científica. A opção pelo kit Covid, apesar de todo bombardeio dos defensores nas redes sociais, felizmente, não ganhou a adesão da população, ressabiada dos resultados positivos.
O povo é sábio. Se o tratamento fosse eficaz, conforme pregam alguns, não teríamos a superlotação nos hospitais, nas unidades da saúde e um crescente número de casos e de óbitos. O que temos, dizem os médicos, é um número expressivo de internamentos de pacientes com Covid que tomaram o kit. Há relatos de casos hepáticos graves, que agudizaram os quadros de Covid e lotaram as UTIs.
Num relato marcante, o pneumologista Carlos Carvalho contou a situação do Incor/Hospital das Clínicas em São Paulo. “Nós temos hoje 150 pacientes internados. Se eu fizer uma enquete, eu te diria que dois terços a três quartos desses pacientes que estão internados, sendo a maioria deles intubados, tomaram o kit Covid. Quem falou que deu o kit Covid para população e disse que o resultado foi estupendo não vivenciou o doente grave que está aqui nas UTIs e no hospital. A maior parte dos que estão aqui hoje tomaram".
Em Foz do Iguaçu, a situação também ganhou certa proporção depois que um grupo de empresários, incentivados pela Acifi, fez uma vaquinha para compra dos kits Covid que, segundo eles, passaram a ser ministrados sob orientação médica. Não há, por enquanto, um monitoramento mais prático dessa ação.
Pelo que se sabe, a campanha pode ter arrecadado de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão, o que dá para comprar até 30 mil doses de vacina, 23 mil cestas básicas, 5,1 milhões de seringas, 30 ventiladores pulmonares,15 mil ampolas de Propofol, 5,3 mil tabletes para os alunos das escolas, 2,5 milhões de máscaras de tripla proteção, 337,5 mil máscaras N95, 120 mil frascos de álcool em gel de 420 gramas, 30 mil jalecos descartáveis, 8 UTIs móveis.
São exemplos que ganham força com a participação expressiva do setor produtivo paranaense na doação desses artefatos, equipamentos e insumos. A Lar Cooperativa, aqui perto, doou cinco respiradores ao Hospital e Maternidade Nossa Senhora da Luz, de Medianeira. A Cocari entregou 850 kits de máscaras reutilizáveis destinadas aos alunos do 4º ano das turmas participantes do Programa Cooperjovem em Mandaguari. A Castrolanda doou R$ 1 milhão para o combate e prevenção à Covid-19.
Fora do âmbito do agronegócio, tem-se ainda outros exemplos: a Natura doou R$ 4 milhões para compra de vacinas e insumos. O Carrefour, rede de supermercados, repassou R$ 15 milhões em alimentos para as famílias impactadas. Um grupo de empresários, da campanha"Amor Contagia", entregou 14 respiradores à Secretaria Estadual de Saúde, o que ajudou na instalação de mais leitos de UTI no Paraná.
Essas doações não estão restritas ao andar de cima. Há o envolvimento de grupos de moradores, entidades e movimentos que entregam marmitas, às pessoas e famílias mais necessitadas. As prefeituras - Foz do Iguaçu, Cascavel, Curitiba, entre outras cidades - que estão em campanhas junto com a vacinação na arrecadação de alimentos.
Tudo isso se soma à campanha de vacinação - único tratamento precoce eficaz -, apesar de não ser tão célere quanto se espera (faltam vacinas devido a um erro estratégico do governo federal e que merece outro artigo). E de outras medidas implantadas pelas prefeituras, a ampliação da rede e estruturas de atendimento, entre elas, mostram a importância da solidariedade, mobilização, engajamento e o apoio de todos para mitigar o sofrimento de tantos.
José Elias Aiex Neto é médico psiquiatra e escritor, é autor de Psiquiatria sem Alma (Travessa dos Editores) e Barbárie Consentida (ed. Epígrafe),