Trilogia perigosa
J. J. Duran
Ao longo da história da indo-América sempre foi possível, e ainda o é, encontrar governos democráticos com ações ditatoriais, mesmo que de forma disfarçada. Nem sempre as ditaduras são fruto de insanos golpes militares, que também brotam de democracias eleitas pela visão infantil de um eleitorado devoto de líderes populistas.
Analisando o ideário político-ideológico, temos que lembrar que a democracia é fruto da incapacidade de um país para encontrar soluções viáveis fora de uma quase centenária organização político-eleitoral governante. E torna ainda mais turvo esse quadro a rotulação que dessa sociedade fazem os "politicólogos”, colocando-a como altamente politicada.
Nas democracias nacionalistas com mistura religiosa, os governantes são sistêmicos representantes da mediocridade republicana e acabam seus mandatos se diluindo em intermináveis confrontos estéreis contra inimigos imaginários, na incontrolável lembrança de um passado que ficou na História como um tempo de triste evocação. Quando a violência é praticada desde o poder ou desde o povo, não deixa de ser “tempo de triste lembrança fratricida".
A democracia vem sofrendo perigosas mutações, agregadas pela aparição da pandemia e do descontrole verbal de figuras políticas que, com o passar do tempo, só irão deixar melancólica saudade em seus alegres seguidores. O caso mais patético foi a recente ascensão e queda humilhante de Donald Trump.
As ditaduras não se limitam na figura de seus míticos líderes. Elas esgrimem ortodoxia como paradigma de suas gestões, mostrando uma profunda desinformação sobre a cultura política, que repele os fatos negativos, só superáveis pela ação republicana do povo.
Temos governos democráticos com governantes de forte tendência autocrata e feudalista. Em nosso continente temos vários governos que evocam o passado autoritário como forma de revisão de 50 anos de encontros fratricidas, que só produziram dor e desesperança.
Esses governos são frutos do pensamento de massas que seguem os “iluminados” negacionistas de um presente que carrega as feridas de muitos que deram sua vida em defesa da verdadeira democracia.
Em resumo, os caretas, os socialistas do caviar e a ortodoxia bíblica formam uma trilogia ameaçadora. (Imagem: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná