Conversa com Deus
Carlos Antônio Reis
Oi meu Deus! Sei que andamos meio afastados, e não tiramos tempo para Você. Afinal, a vida é tão corrida e nos ocupamos com tantas coisas. Mas hoje, com meu coração apertado, angustiado e com medo, senti sua falta e preciso lhe falar.
Sabe Deus, foi necessário um vírus que nos traz sofrimento, dor e mortes, muitas mortes, para compreendermos que a cada dia que passa estamos aprendendo novas lições com tudo isso.
Aprendemos que é preciso haver isolamento, mas não solidão.
Aprendemos o valor do abraço, do toque, do aperto de mão, de andarmos por aí livremente, de celebrarmos pequenas e grandes datas em nossas vidas, da reunião, do churrasco com amigos e familiares.
Aprendemos que a escola, a faculdade não é tão ruim assim, é um lugar legal. Sinto falta dos amigos, dos professores e até das aulas.
Aprendemos e valorizamos mais viver em comunidade e livremente ir à igreja.
Aprendemos a dobrar os joelhos, e muitas vezes entre lágrimas suplicar por um leito, suplicar pela cura de alguém especial.
Aprendemos, meu Deus, a valorizar a fragilidade de nossos idosos e enxergar que somos pequenos e que a vida é um espetáculo único, e por isso precisamos valorizar cada minuto de nossa existência.
Aprendemos o valor de um sorriso, aquele sorriso aberto, livre, espontâneo daqueles que aquecem a alma e o coração.
Tivemos que aprender a demonstrar nossas emoções apenas com o olhar. Afinal, nossa boca está encoberta pela necessária máscara que agora compõe nosso vestuário.
Aprendemos o valor do trabalho e do emprego, pois muitas pessoas querem trabalhar e não podem, pelas circunstâncias ficam confinados em casa, impedidas de prover o sustento de suas famílias.
Aprendemos Senhor, que existem pessoas boas que fazem a diferença no mundo. Aquelas que todos os dias saem de casa e às vezes nem para ela voltam, munidas de amor e garra com a missão de salvar vidas. Estão há um ano vivendo a rotina angustiante e estressante do trabalho em uma unidade de saúde, hospital ou em ambulâncias.
Sim meu Deus, descobrimos que os anjos estão por aí lutando para salvar vidas, confortar famílias, às vezes perdendo a sua própria. Mas, aprendemos também meu Deus, que ainda existem pessoas inconsequentes que não valorizam sua vida e a de seus familiares, e contrariando todas as recomendações, insistem em colocar as festas, as baladas, os churrascos e as bebedeiras acima da vida, e de maneira irresponsável ignoram a tragédia que vivemos.
Aprendemos como é difícil e triste para uma família não poder realizar a cerimônia fúnebre de um ente querido. Depois da morte, esse momento talvez seja o que há de mais cruel. Não poder prestar uma última homenagem, última despedida. Enterro rápido, solitário, com o mínimo de pessoas. Esta é uma das muitas faces dessa pandemia.
Aprendemos que, de fato, a grande maioria dos políticos tenta desesperadamente buscar uma solução para amenizar a dor, o sofrimento e a morte, errando e acertando, mas não ficam alheios a este problema que parece não ter solução.
Por outro lado, há também políticos que preferem negar os efeitos dessa terrível doença, alheios à dor, à insegurança, ao medo de muitos que dependem da tomada de decisões que tragam esperança e salvação a milhares de vidas. Infelizmente, preferem o discurso que confunde e contraria a ciência.
Aprendemos Senhor, que pertencemos à natureza e ao universo regidos por Você e não ao contrário. O homem, por mais que tente, jamais dominará totalmente a natureza ou desvendará os segredos do universo.
Aprendemos que por mais que a ciência avance, sempre haverá um novo desafio, uma nova descoberta, uma nova doença para ser pesquisada e superada.
Aprendemos a ter mais esperança e exercitar nossa fé. Aprendemos a pedir a Você todo dia que nos livre dessa pandemia, aprendemos o valor da oração.
Aprendemos a pedir perdão, pois a vida é passageira, e entendemos que somos insignificantes.
Perdão Senhor pela nossa falta de empatia, de solidariedade.
Perdão pelas nossas fraquezas, pela pouca fé, pelo nosso comodismo diante de tantas injustiças deste mundo.
Perdão por colocarmos, muitas vezes, os bens materiais, a busca incessante pelo dinheiro acima da família e dos amigos.
Perdão pelas nossas vaidades, futilidades, ostentação, orgulho, discriminação e falta de respeito ao próximo.
Perdão Senhor, por aquelas pessoas irresponsáveis que não cumprem as recomendações sanitárias e continuam com suas festas, ignoram a máscara e não estão nem aí para milhares de pessoas que sofrem nos hospitais ou morrem diariamente. Aquelas pessoas que não demonstram nenhuma empatia e, inconsequentemente, não abrem mão de levar uma vida normal, alheios ao caos instalado no mundo.
Deus, por favor, clamo pela Sua infinita bondade e misericórdia, pois somos fracos e impotentes, somos nada. Já percebemos isso, inclusive que não há céu sem tempestade e que não devemos desistir da vida.
Aprendemos a lição, queremos e seremos melhores depois que tudo isso passar. Não desista ainda da humanidade, nos dê mais uma oportunidade, só mais uma Senhor.
Hoje é isso que te peço. Quero ter minha família junto de mim, quero ter meus amigos de volta, quero voltar a sorrir, a brincar, a cantar, trabalhar normalmente.
Permita Senhor, que a vida volte ao normal. Afinal, sabemos que És amor e não nos abandona, que está conosco mesmo neste tempo de provações, aflições e desafios.
Que não percamos a esperança e a fé e que DEUS nos abençoe!
Carlos Antônio Reis é professor e prefeito de Anahy-PR