Menos de três em cada cem jovens brasileiros querem ser professores
No Brasil cada vez menos jovens querem seguir a carreira docente. Hoje, apenas 2,4% dos alunos de 15 anos têm interesse na profissão. Há dez anos, o porcentual era de 7,5%. Os dados são do relatório Políticas Eficientes para Professores da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Na média, os países avaliados também tiveram queda na proporção de alunos de 15 anos interessados pela carreira. O porcentual passou de 6% dos adolescentes para 4,2%. Segundo o estudo, a baixa atratividade da carreira se deve ao pouco reconhecimento social e aos salários, conforme reportagem de Isabela Palhares no Estadão.
Segundo o relatório da OCDE, a valorização de quem entra em sala de aula para ensinar as crianças foi o caminho trilhado pelos países que hoje têm os melhores indicadores educacionais do mundo. Tornando a carreira mais atrativa, esses sistemas conseguiram levar os melhores alunos para a profissão e, consequentemente, formaram melhores professores.
O Brasil, no entanto, caminha na contramão desses países: quem procura a profissão são os jovens com menor rendimento escolar. No País, a média de quem quer ser professor é de 354 pontos em Matemática e 382 em Leitura, no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Do outro lado, os jovens que querem outras carreiras que exigem ensino superior têm média de 390 e 427 pontos, respectivamente. "Os baixos salários e o pequeno reconhecimento social podem deter estudantes academicamente talentosos, já que eles têm opções mais lucrativas e prestigiadas", aponta o relatório da OCDE.
SALÁRIO BAIXO
A valorização docente também depende de boa remuneração. Dados mostram que o Brasil ainda caminha a passos lentos para chegar perto dos melhores exemplos educacionais. O professor da rede pública brasileira recebe, em média, cerca de R$ 38,9 mil por ano - um terço da média dos docentes de países membros da OCDE.
Os salários também são mais baixos quando a comparação é feita no Brasil, com profissionais com a mesma escolaridade. Relatório do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais publicado este mês mostra que o salário de professores da educação básica é, em média, 25,2% mais baixo.
ENVELHECIMENTO
O fato de a docência ser uma carreira pouco atrativa para os jovens brasileiros fez com que o quadro de professores envelhecesse no País. Hoje, um em cada cinco professores da educação básica tem mais de 50 anos. Além da preocupação com a reposição desses profissionais, que, em tese, se aposentarão nos próximos anos, especialistas destacam o distanciamento que professores mais velhos costumam ter em relação aos alunos.
"O mundo mudou mais rapidamente nos últimos anos e, com isso, a necessidade dos alunos é outra. O sistema educacional não acompanhou essa mudança. Precisamos reconfigurar a escola, usar novas linguagens, novas metodologias de ensino. O professor jovem é essencial para essa mudança. Quem está há mais tempo na carreira tem muita experiência, mas também precisa mudar", diz Miguel Thompson, diretor do Instituto Singularidades. Segundo o Censo Escolar de 2016, apenas 14% dos 2,1 milhões de professores que lecionavam naquele ano tinham menos de 29 anos. (Foto: Arquivo)