Março, mês necrófago
J. J. Duran
Entendo que aos militares, do sargento ao general, não se pode e nem se deve negar o direito de participação ativa na vida cívica da República, tampouco o direito de ascender aos cargos da representação popular.
Porém, também sou daqueles que entendem ser incompatível alguém ser membro, simultaneamente, de uma força armada e de um partido político, o que existe praticamente apenas nas imaturas democracias indo-americanas.
Uma vez chamado ao exercício da militância partidária, o militar deve antes renunciar às prerrogativas de sua carreira, independente de qual seja a sua patente, diferentemente do que ocorreu ainda recentemente, quando um general da ativa foi nomeado para conduzir um importante ministério brasileiro.
Durante toda minha longa militância como jornalista, sempre divergi dos governos cívico-militares que fazem do autoritarismo o instrumento básico da sua ação e elegem a desqualificação agressiva dos adversários como ferramenta política para dirimir conflitos normais da vida republicana, mutilando assim a verdade e o direito.
Vivemos um momento de eclipse do diálogo leal, franco e respeitoso, desenvolvido dentro dos limites impostos pelo convívio civilizado. Por isso, há que se fazer todo o possível para acalmar os espíritos e desanuviar o horizonte.
Só os ingênuos ou politicamente retardados ainda alimentam a crença de que o radicalismo seja o único processo capaz de promover as mudanças que a República reclama. Equivocado é o pensamento disseminado pelos tresnoitados frequentadores dos botecos na defesa da volta ao passado.
Preocupa-me a crescente radicalização do processo político. O centro de gravidade da vida democrática brasileira está se inclinando para as áreas convulsionadas da agitação ideológica.
Historicamente, o Brasil tem exibido com orgulho ao mundo o seu horror à violência sistêmica oficial, que não aceita as imposições dos credos autocráticos e seus seguidores irracionais, ao contrário, faz da cordialidade e da fraternidade marcas registradas do seu espírito.
É lamentável ouvir o pedido de fechamento do Supremo Tribunal Federal, a despeito da conduta equivocada de seus ministros, pois se trata de um organismo pretor que precisa ser mantido à margem do conflito de interesses e acima das deformações ideológicas, pois é nele que a civilidade busca, nos momentos republicanos mais difíceis, a proteção e o amparo contra o dilúvio desatado pela violência verborrágica, pelo autoritarismo sem limites racionais, pela força e pela intimidação.
Manuel Luís Osório, o Marquês do Herval, um dos mais bravos homens da História brasileira, deixou uma lição perene de dignidade militar ao declarar: "A espada que trago na bainha é pra defender a Pátria contra seus inimigos, jamais para tiranizá-la".
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná