O rebanho
J. J. Duran
Os muitos anos de estupidez dos três poderes republicanos no exercício de suas altas funções resultaram em coisa não recomendável para se recriar em um país onde a classe menos favorecida, tanto econômica quanto culturalmente, cresceu tendo as injustiças sociais como preâmbulo moral desses poderes.
A tão comentada governabilidade chegou ao cenário nacional em 1988 com uma doença terminal. Gestou-se desde esse insigne momento uma democracia por adesão popular arrumada pelas elites. Às massas eleitorais restou concordar e bater palmas.
Grande parte da classe política, apesar de eleita pelo povo, infestou o sistema democrático. Péssimas gestões sociais, arremedos de programas e políticas econômicas liberais e socialistas do caviar, junto à sinistra desfiguração da verdade produzida pelos meios de comunicação e pelas redes sociais levaram ao cenário presente.
Tem razão o capitão presidente quando diz que "o povo se acostumou a viver com os benefícios que outorga o governo". Com todo respeito, substituo o vocábulo benefícios por migalhas.
Pensar e delinear o futuro implica em fazer um conjunto de conjecturas que minha limitação cultural impede de realizar. Porém, posso arriscar em dizer que a violência, com toda sua variação de matizes, seguirá sendo parceira do dia-a-dia do homem simples da rua e o futuro seguirá sendo um enigma.
Para projetar o futuro é imprescindível refletir muito sobre o desatino que significa votar no líder ou no mito, e compreender que as ideologias da democracia, todas elas respeitáveis, hoje estão fora do contexto republicano.
Afinal, como falar de ideologia em um cenário onde a miséria e a fome, frutos das políticas liberais, mostram para os invisíveis sociais toda a miséria moral que rodeia a classe capitalista dominante?
Como seus parceiros indo-americanos, o Brasil está empobrecido no diálogo político e exibindo ao mundo a mediocridade de seus governantes e de seus "rebanhos”, que vão em luxuosos veículos à rua para vociferar sua adesão mítica, enquanto outros ficam em casa batendo panelas e uma terceira parte permanece silenciosa a observar tamanhas idiotices. (Foto: Geraldo Bubniak/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná