A política é impiedosa
J. J. Duran
Ainda não é conhecido em toda sua magnitude o terrível problema que acabrunha nossa geração de homens públicos na indo-América.
Somos, na verdade, um continente sufocado pela crise que nos envolve, agravada pela aparição de uma pandemia universal, que desnuda a incapacidade de muitos homens públicos catalogados como apóstolos do renascimento dos costumes e valores que deram textura à formação de muitas repúblicas.
Sem fechar os olhos para a gravidade da hora, que está reclamando de todos nós uma lúcida, honesta e inteligente tomada de posição para sobreviver, somos forçados a reconhecer que não temos, como sociedade, por que nos entregar ao desespero causado pela frustração em ver o negacionismo suicida de alguns.
Devemos considerar que esta crise de gravidade incomensurável é uma contingência imposta pela necessidade de reordenar, dentro de cada república, os valores compatíveis com a cruel realidade que vivemos, e pensar em não voltar a apostar nas eleições vindouras em nomes cujas biografias mostram incompatibilidade manifesta com a capacidade e os valores democráticos que o momento exige.
Nossa cambaleante democracia impõe a necessidade imperiosa e urgente de fazer uma profunda transmutação dos valores morais, hoje subvertidos por práticas irresponsáveis de verdadeiros mercadores do templo.
A história recente nos mostra que o poder econômico vociferante em tempo eleitoral, associado a figuras com falsas biografias, corrompeu não só a elite política, mas a grande parte de um eleitorado confundido pelas aparentes virtudes dos novos censores.
Grandes são as dificuldades, que não resultam apenas dos desfalques morais e econômicos deixados por um socialismo populista. Culpados também são aqueles que, endeusados pelo poder resultante de nova visão republicana, foram massacrados e considerados Judas dentro do lineamento imposto pelo autoritarismo governante.
Vivemos em meio a uma crise do direito, que numa análise superficial mostra o conflito da lei com os fatos.
Devemos encontrar com urgência o denominador comum que nos mostre o caminho capaz de nos levar a uma autêntica reconciliação entre todas as forças políticas, pois só assim será possível manter uma distância segura dos chacais famintos de glória e poder.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná