O artificialismo biográfico
J. J. Duran
As biografias esquematizadas representam, em síntese, a descrição das etapas de toda uma vida. Porém, existem biografias fajutas, onde faltam vocábulos para enaltecer a vida e a obra do benemérito.
Nesse último caso esquece-se, invariavelmente, de mencionar que o bom político, homem público ao fim, enobrece e dignifica o seu amor pelo próximo e a sua meta de indelével espírito de servidão e respeito à moralidade republicana. Aí se procura mostrar, em toda a magnitude possível, a personalidade supostamente virtuosa do político colocada a serviço do bem comum.
Mas não se iludam aqueles que, em tempo eleitoral, escrevem pensando no imobilismo do eleitor. As laudatórias exposições sobre aquilo que se tenta passar como verdade são, na realidade, desmesuradas intenções de relatar um passado inexistente.
Episódicas relações ignóbeis com o transitório poder governante servem para desqualificar o biógrafo e o biografado em uma crônica na qual a supressão do diálogo impede o benemérito homem público de se situar no campo da realidade.
A falsa biografia não silencia nem suprime a lembrança de fatos de triste e dolorosa repercussão social, acobertados pelo poder econômico e pelo uso sectário da propaganda facciosa.
A Operação Lava Jato mostrou que a corrupção no cenário político e na cúpula do capitalismo tupiniquim (nem em toda ela, é verdade) provém de longínquo tempo. Essa distante etapa da história republicana brasileira também registrou a deliberada intenção de criar personagens destinados a figurar nas galerias dos próceres da Pátria os que hoje são pateticamente denunciados como assaltantes do erário e da fé do povo.
São os que construíram fortunas provenientes do trabalho sofrido dos brasileiros para esconder falências, socorrer incompetentes e marginalizar impunemente mais de 13 milhões de brasileiros pela desocupação laboral.
Na década infame se desmantelou a economia, se desestabilizou e arruinou as pequenas e médias empresas. E neste final agonizante de um governo ilegítimo se procura borrar ainda mais as páginas da História, em um esforço febril na tentativa de salvar da incineração pública muitas biografias que se beneficiaram do poder corrupto.
O caudal informativo das realizações anunciadas sem pudor esconde a realidade de um povo que segue assistindo ao aviltamento de sua qualidade de vida e parte do qual segue morando debaixo da ponte, quando não morre perambulando em busca de um leito hospitalar.
Diante disso, todos devem ter muito claro em mente que outubro próximo poderá significar o continuísmo ou a conformação de um novo Brasil.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras