Como será depois da pandemia?
J. J. Duran
Um espírito diferente se faz presente em todos os seres humanos. Também está em todas as ruas do mundo onde o silêncio grita presente, na solidão da separação imposta a tudo e a todos.
A quarentena da vida um dia vai acabar, seja porque não existirão mais pessoas vivas, seja porque a ciência terá derrotado o terrível vírus que castiga a humanidade toda.
Porém, o que fazer depois disso acontecer? Difícil prever um futuro incerto, mas devemos pensar o que está por vir é um tempo com diferente visão da realidade, que fará ressurgir velhos valores morais e surgir costumes e formas diferentes de se viver. Um tempo, enfim, no qual a conduta dos sobreviventes terá outros padrões.
O resíduo que deixará a pandemia será a obrigatoriedade de se ter rápida percepção das coisas e ver a morte com outros olhos. A realidade de hoje, negada pelos iluministas negacionistas, vai derrotar a estúpida arrogância humana.
Entenderá a sociedade globalizada pelo poder do mercado que, na realidade, é a sociedade dos individualismos. Não vão existir mais um primeiro e um terceiro mundos. Passaremos a entender que o mundo é um só, com as mesmas misérias e impotências próprias da temporalidade dos que o habitam. Teremos os mesmos medos que nos impôs a desesperada luta pela sobrevivência ao cataclismo final.
O Bom Judeu jamais foi tão provado tanto quanto o fazem hoje em dia os novos aderentes do milagre da ressurreição da vida, quando os ginetes do apocalipse passam e deixam ruínas materiais e feridas profundas na alma de todos os seres humanos.
Chegará ao fim o endeusado mercado fazedor de todas as felicidades prometidas pelos donos da verdade absoluta.
Penso que esse vírus sem rosto, que semeia a morte em todos os cantos da terra mãe, também ressuscitou o humilde sentimento chamado fraternidade e vai deixar um forte e claro recado.
Todos nós, náufragos de uma estúpida travessia de orgulhos, consumismo e negação irracional da verdade, devemos compreender que somos meros inquilinos temporários de um lugar debilitado pelos seus habitantes. (Foto: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná